No âmbito penal, tirar a vida de alguém constitui o crime de maior gravidade. No caso de nascituro, a interrupção da gravidez pode ser causada pelo vil motivo. No caso da preocupação civil tudo volta à estaca zero, ainda que cometido crime; O direito penal, todavia, no afã de impor justiça, em qualquer caso estipula a reclusão ao agente promotor. Não tem nada a ver. O único meio de fazer justiça seria se
Leviathan, o
deus terreno, também possuísse a capacidade de reviver a vítima. A rigor, a meu ver, esta inevitável "injustiça" se aplica inclusive ao demais tipos de homicídios. É trivial a comprensão, todavia, o predisposto carcerário: serve, não propriamente de "fazer" justiça, posto provada utópica, mas para refrear o "homem lobo do homem", na definição de Hobbes. Voltando ao tema, que vida pode ser tirada de alguém que sequer nasceu, e nem se sabe se de fato vai nascer? Que tipo de expectativa pode ser protegida em radical formação? Neste caso a lei primava por tudo ignorar, decretando simplesmente que não vinha ao caso, não interessava se o feto estaria apto ou não. Se há provocação de aborto, é crime, e fim. Leigos costumam se referir às jurisprudências como simples manifestação de bom senso. Neste caso, contudo, o bom senso de antemão é excluído:
Limbo jurídico impede mãe de abortar anencéfalo
À própria mãe, família, à religião, até aos costumes, o começo da vida é indefinível; porém, sabe-se, por óbvio, que ela precede o nascimento. Ao Estado, contudo, não. Ainda que hígido o nascituro,
Leviathan lhe desconhece, sequer teve mínima notícia. O herói coletivo não pode se prestar a proteger este alguém de sexo desconhecido, de face desconhecida, sem nome, muito menos algum registro. Ainda que de modo metafórico a justiça seja apresentada com venda nos olhos, um posicionamento oficial requer a luz. Até "ser dada à luz', o Estado não pode enxergá-la; portanto, não está a seu alcance protegê-la. Ao Estado, pois, a futura criança não existe.
Alguma argumentação mais abalizada colocará em xeque esta tese; em sua falta, disponho o heurístico à reflexão, afeto à redimensão, naturalmente.
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