sábado, 17 de março de 2012

Jânio Quadros não tinha razão?

Em outros momentos históricos os confrontos se davam em torno de ideias e os protagonistas tratavam de difundi-las para ganhar apoio. A simpatia popular era vista como essencial para definir o vencedor. Com o naufrágio da política, as lutas tornaram-se subterrâneas, quase clandestinas. Por trás de tudo, nada mais que cargos, poder e dinheiro. Os rumos do País não interessam nem estiveram na mesa de debates. Grande parte da energia é gasta nos bares e nos corredores, onde circulam queixas, ameaças e recados. A política fechou-se nela mesma, despojou-se de suas características históricas e virou uma corporação que cuida dos próprios interesses. Fernando Gabeira Política e naufrágio

Durante a campanha de sucessão presidencial, as denúncias de corrupção foram amplamente exploradas pelo candidato Jânio Quadros, O "faxineiro" presidiu o país por meio ano, apenas. Alegou ser vítima de "terríveis forças ocultas", e renunciou. Fora eleito através de um partido nanico, PTN. mas levou o apoio da eterna aspirante UDN União Democrata Nacional) e ainda do )PDC, PR, PL, ao mandato de 1961 a 1966. Suplantou o Mal. Henrique Lott (PTB-PSD) de forma arrasadora, por mais de dois milhões de votos; porém, não conseguiu eleger o candidato a vice-presidente de sua chapa, Milton Campos (naquela época votava-se separadamente para presidente e vice). À suplência, quem se elegeu foi João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro, da chapa de Lott.  Os partidários de Jânio, desprovido da ramificação dos cabos eleitoraiis estendidos desde Getúlio Vargas, e sem TV,  formaram apenas uma escassa minoria, e ainda dividida,  no Congresso Nacional.

Jânio detinha formidável conhecimento da língua pátria. Suas palavras eram precisas. Por que motivo utilizaria termos tão vagos, imprecisos, tal qual "forças ocultas", ou "terríveis"? O que poderia indicar serem elas terríveis? De terror, obviamente, mas de que tipo? De que modo um Presidente, eleito com tamanho furor popular poderia alegar que forças ainda maiores o impediriam de governar? Seriam mesmo terroristas? As comunistas? Sindicais? Remanescentes fascistas? Empresariais? Talvez estrangeiras? Quiçá ainda aquelas forças internacionais, pretensamente responsáveis pela tragédia do Catete? Ah, esses imperialistas yankees... Quem sabe as revolucionárias comunistas, tanto que fora a Cuba? Ou seriam forças místicas? Quem sabe a Maçonaria? E as ocultas, seriam os investidores de campanha em Caixa 2? Haveria ainda inimigos na trincheira? Segundo a professia do inspirador de nosso pavilhão o mundo seria governado cada vez mais pelos mortos...  Almas penadas teriam assustado o homem da vassoura? Ou seria a quase imperceptível força do quarto poder, da imprensa, por alijada da publicidade oficial? Por qual razão o emérito professor usou os termos "terríveis", "ocultas"?  Por que não quis divulgá-las? Chantagem? Negócios? Haveria algum dinheiro sujo em jogo? Frustradas ONGs? Algum Cachoeira remanescente de JK? Teria sido ameaçado? Quem sabe? Com mensalões se alterou até mesmo a Constituição... Teria Jânio negado os tradicionais pedidos de propinas dos parlamentares? Fico com esta.
Quando alguém nos pergunta o que somos em política, ou, antecipando-se com a insolência que pertence ao estilo de nosso tempo, nos adscreve simultaneamente, em vez de responder devemos perguntar ao impertinente que pensa ele que é o homem e a natureza e a história, que é a sociedade e o indivíduo, a coletividade, o Estado, o uso, o direito. A política apressa-se a apagar as luzes para que todos estes gatos sejam pardos.  GASSET, José Ortega Y, A rebelião das massas: 15
Na época (e até hoje), nada disso interessou, nem à imprensa, tampouco para algum arquiperipatético vivente. E não seria a politicalha prestes a novamente se agadanhar do poder que mexeria na ferida. Na corda-bamba estendida, exceto os tontos, todos torciam pela queda do artífice. No anonimato da platéia, tudo estava ao belprazer dos artistas recentemente desbancados. Desse modo, passado meio século, o buraco-negro que engolfou a tênue democracia permanece na incógnita. Decifra-me ou te devoro. Como nada foi decifrado, mas apenas especulado, até hoje estamos à mercê, inapelavelmente  devorados pelos leviathans que se sucedem,  cada qual em seu prêt-à-porter. Bom senso torna-se bobagem; benefício, tormento. Malgrado S. Exa. retornar à ribalta na geração posterior para varrer a Prefeitura de São Paulo, sequer neste momento lhe foi exigido esclarecer aquele dantesco ato, e tudo ficou por isso mesmo. À Nav's ALL, contudo, não. Seu comandante nasceu sob o império da perfídia, e até agora sofre os estilhaços desse monstruoso big-bang.
Jânio tomou fama de alcoólatra. Suas ações, no curto período, eram mesmo compatíveis com distúrbios psíquicos, emocionais. Seu exagero, o radicalismo o levou a tomar medidas personalistas - proibição de brigas-de-galo, de biquinis, etc. E afrontava o Eua estreitando os laços com Cuba, onde se encontrou com o mito Che Guevara, este gatuno de primeira, e até com a U.R.S.S .Jânio lhe concedeu uma condecoração no dia 19 de agosto de 1961, a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul , porquanto o guerrilheiro argentino, naquela ocasião ministro da revolução cubana, atendera seu apelo, libertando mais de vinte sacerdotes condenados ao fuzilamento,. Jânio fez o pedido de clemência por solicitação de dom Armando Lombardi, Núncio apostólico no Brasil, que o solicitou em nome do Vaticano. A outorga da condecoração foi aprovada no Conselho da Ordem por unanimidade, inclusive pelos três ministros militares. Evidentemente cutucava um leão, o maior do mundo, com vara curta.

As ações internacionais, e as bizarras proibições, contudo, não seriam fortes para desestabilizá-lo, mas o Congresso também era confrontado. A chave, ou o cadeado, estava no Congresso. Jânio implementava duras medidas visando combater a enorme inflação herdada dos desmandos de - JK - Sua política de austeridade, baseada principalmente no congelamento de salários, restrição ao crédito e combate à especulação, desagradava inúmeros setores influentes, mas especialmengte o Congresso, desde Getúlio acostumado com mensalões e emendas orçamentárias..
Jânio nunca teve um bom esquema de sustentação no Congresso Nacional. Sua eleição se deu ao arrepio das forças políticas que compunham esse Congresso, que fora eleito em 1958, e já não mais correspondia às necessidades e às aspirações do eleitorado, que mudara de posição. Diz Hélio Silva, em A Renúncia:[1] O resultado do pleito em que Jânio recebeu quase 6 milhões de votos rompeu o controle das cúpulas partidárias.

Política naquela base

Tanto quanto Collor (Collor relembra impeachment e cobra diálogo com o Congresso).  e a rigor tal qual nossa Presidenta, ainda incólume, mas enfrentando a rebelião,  (Para Dilma, opinião pública apoia endurecimento com partidos e rejeita a ‘chantagem’ parlamentar) Jânio lavrava seu termo:
Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou indivíduos, inclusive, do exterior. Forças terríveis levantam-se contra mim, e me intrigam ou infamam, até com a desculpa da colaboração... 
Identifica-se, aqui, o que Roger-Gérard Schwartzenberg cognomina do novo triângulo do poder nas democracias, que junta o poder político, a administração (os gestores públicos) e os círculos de negócios. Essas três hierarquias, agindo de forma circular, cruzando-se, recortando-se, interpenetrando-se, passam a tomar decisões que se afastam das expectativas do eleitor.Presos na teia de aranha
Lula escapou porque soube repartir a pizza com todo mundo, digo com o mundo mesmo, de Chávez,  Evo Morales,  do iraniano, até Sarkozy, embora este sustentado apenas com promessas, com Fifa, Comitè Olímpico, etc., fatos que embora dilapidasse fortemente o patrimônio nacional lhe propiciaram as honrarias internacionais.
Analisando-se o que aconteceu no episódio do mensalão, quando o então presidente Lula escapou de sofrer um processo de impeachment, constataremos que isso só aconteceu por que Lula tinha uma história política anterior que lhe conferia papel importante na transição para a democracia, principalmente à frente do Sindicato dos Metalúrgicos, e um partido, o PT, com força de mobilização a nível nacional, além do apoio dos sindicatos e de outros movimentos sociais como a UNE e o MST, apoios com que Collor não contou na época, embora tenha tentado mobilizar, sem êxito, a população a seu favor. Diferenças
As terríveis forças ocultas foram e são todas as supra elencadas, mas principalmente aquelas oriundas das corporações defenestradas, os cortes nas  mamatas e vantagens financeiras tradicionalmente propiciadas pelos governos brasileiros, com ênfase nos grupos liderados pelos vices-presidentes, sempre na expectativa de se agadanharem completamente dos cofres públicos.
Vou me abster de enfileirar aqui escândalos de que Calheiros, Jucá e Maggi foram acusados, que envolvem superfaturamento, desvio de dinheiro, abuso de poder, fraudes, compra de votos, uso de laranjas e doleiros. Uma página não seria suficiente. Mas estão todos aí, vivinhos da silva, pintados de guerra e bravatas, graças ao toma lá dá cá tropicalista. Estão aí também porque, à maneira do ex-presidente Lula, são camaleões, mudam convicções e ideias – se é que as têm – ao sabor de quem manda. Pode ser PT, PMDB, PSDB, não importa. Jucá foi presidente da Funai no governo Sarney em 1986. Aprendeu a se fazer cacique e atravessou governos incólume. O que importa para os políticos “com traquejo” é manter a boquinha. E se tornar eterno. Dilma e o bloco dos sujos
Com crise, governo desconhece tamanho real da base aliada
Somente em 2010 o aparelhado Ministério desembolsou R$ 30 milhões em transferências - em mais de um sentido - do gênero. Em 2010 o governo destinou R$ 5,4 bilhões a 100 mil ONGs, ante R$ 1,9 bilhão em 2004. Esses gastos têm crescido mais do que as transferências para Estados e municípios. Estadão, OPINIÃO: Ministro tem de sair
Pente-fino em contratos impede 13 ONGs do Rio Grande do Sul de receber recursos da União
"Tem várias forças ocultas e semiocultas nesse processo, né? A verdade é que o Brasil vem passando por uma transformação econômica e social, mas ainda não tinha feito o enfrentamento das antigas práticas políticas." (Eduardo Braga: ‘Chegou a hora de enfrentar antigas práticas’ )
A composição da Câmara dos Deputados foge ao controle do cidadão e é entregue de bandeja às oligarquias partidárias, que recriaram o velho esquema do coronelismo da República Velha se aproveitando dessa cusparada em Pitágoras e Aristóteles, pois em nosso sistema o mais vale menos e o menos vale mais. O neocoronelismo do voto eletrônico, instituído no Poder Legislativo tornado Constituinte, inventou o conceito cínico da governabilidade. Segundo este, o presidente eleito pela maioria real submete-se ao tacão dos oligarcas partidários: só lhe é permitido governar se fatiar a máquina pública e distribuir as porções da carniça às legendas cuja legitimidade como representação popular é, na prática, nula. Por isso estamos sob a égide de uma paráfrase do antigo axioma de Artur Bernardes: 'Ao político, tudo; ao cidadão, o rigor da lei'..Um chute no traseiro da Constituição  
 Nada de novo no front.
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