quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Carma Ocidental - 47. Tempo é dinheiro?


O homem ocidental civilizado vive num mundo que gira de acordo com os símbolos mecânicos e matemáticos das horas marcadas pelo relógio. É ele que vai determinar seus movimentos e dificultar suas ações. O relógio transformou o tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida como um sabonete ou um punhado de passas- de-uva. E pelo simples fato de que, se não houvesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido, nem teria contnuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado ou do que qualquer outra máquina. WOODCOCK, A ditadura do relógio, In A rejeição da política, 1972 
Como convém ao mito.
O efeito da "filosofia" grega é o domínio. Ao contraste, o efeito da filosofia oriental é o usufruto. Não por acaso, ainda que por paradoxo, a religião ocidental tudo fragmentou, despedaçou. Corpo e alma. céu, inferno, e, por fim, esquerda e direita. Não sobrou sequer o tempo, dividido em quarto sobre quarto, ad infinitum, mas desse modo tornando tudo totalmente limitado.
Religiosos não acreditam na eternidade.

Foi a tradição judaico-cristã que estabeleceu o tempo linear (irreversível) de uma vez por todas na cultura ocidental... O tempo irreversível influenciou profundamente o pensamento ocidental. Preparou a mente humana para a idéia de progresso, para o conceito de tempo profundo, para a surpreendente descoberta dos geólogos de que a evolução humana é apenas um episódio recente e curto na história da Terra. Preparou o caminho para a evolução de Darwin, que fala de nossa união com criaturas mais primitivas através dos tempos. Em resumo, o advento da idéia de tempo linear e da evolução intelectual desencadeada por essa idéia corroborou a ciência moderna e a promessa de melhoria da vida na Terra.
COVENEY: 22
Era (de de todo modo ainda é) o previsível (e monótono) tique-taque que orientava as previsões: "A confecção de relógios, por exemplo, é certamente delicado e trabalhoso, de tal modo que as suas rodas parecem imitar as órbitas celestes ou o movimento contínuo e ordenado do pulso dos animais." (BACON, F.: 67 Sir NEWTON (Principia, II, art. 37) aproveitou a carona:

O espaço absoluto, em sua própria natureza, sem levar em conta qualquer coisa que lhe seja externa, permanece sempre inalterado e imóvel... O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, de si mesmo e por sua própria natureza, flui uniformemente, sem depender de qualquer coisa externa.
Lêdo engano, o mais crasso dos equívocos:

O verdadeiro tempo (o que Bergson chama de 'duração') consiste propriamente na experiência vivencial da própria vida, e, por conseguinte, radicalmente intuitiva. Entretanto, para a maioria de nós, esse tempo verdadeiro foi inapelavelmente deslocado pelo ritmo do tempo marcado pelo relógio. Aquilo que constitui fundamentalmente o fluxo vital de experiência torna-se então um gabarito externo, arbitrariamente graduado, a que nossa existência é subordinada - e sentir o tempo de qualquer outra maneira torna-se 'místico ou louco'. Se a sensação do tempo pode ser assim coisificada, porque não haverá de ser tudo o mais? Por que não inventarmos máquinas que coisifiquem o pensamento, a criatividade, a tomada de decisões, o julgamento moral?
ROSZAK, T.:230
Mais do que isso, se presume que a quantidade de tempo, e não como se lhe usa é que constitui seu valor. Bobagem. De nada adianta dispor de tempo, e não bem usá-lo. Pode-se ter todo o tempo do mundo, que se mal empregado, torna-se desvalorizado. Portanto, não é o número, e sim a qualidade o maior distintivo do tempo de cada ser.
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Falam de nossa união com criaturas mais primitivas, através dos tempos. Quantos seriam? E se for apenas uma, pelo critério da seleção natural não são os macaquinhos mais equipados do que gente, porque tem até rabo, que ainda não temos? E nosso parentes, seriam descendentes do quê? DARWIN (cit. THUILLER: 199), todavia, para desespero do Cap. FRITZ ROY, curtiu o cruzeiro por longo tempo, e de graça; depois esperou, por dezenas de anos, a chegada de WALLACE. Só então apresentou "seu" trabalho, por sinal, idêntico. Nada perdeu, só ganhou. No casar, contudo, sim:

“O casamento acarreta uma terrível perda de tempo!”

PROUST foi em busca do tempo perdido. Na sepultura deve ter achado.

Não são poucos os que perdem o avião. Como ontem ainda vimos, pode ser a sobrevida. Outros, perdem o cinema, e até o bonde da história. Às vezes passa o cavalo encilhado, sem montaria. Diz-se que ao lento recai o vento.
Na falta de outro parâmetro, a marcha vem batida no cronograma: rush da manhã, do almoço, da happy hour. Ela nem pode durar a unidade; senão, o incauto leva um rolo de massa na cabeça. Em casa, depois do jantar, todos na TV. Acompanham a novela de enredo invariável, e de horário impecável. Ela é tão forte que desloca até o Maracanã lotado para mais tarde. A torcida que espere o beijo.
Hora-extra? Quem logra o fenômeno leva vantagem. Só não atrase o pagamento. Ele custará muito mais caro, principalmente por aqui. Coisa de “apenas” uns 200% ao ano.
Mas se o atraso recair na audiência, justiça não vem ao caso. Pronto: lá se foi o capital!
Trabalho à noite ganha adicional, mas vôo noturno à capital tem desconto. Durma-se com um barulho desses!

Um semialfabetizado demora um ano para ler o livro. Outro faz o percurso em dia. Àquele o tempo urge. Pela leitura dinâmica, há tempo para tudo.
Quem tem tempo não carece. Quem não tem, pega a primeira condução que aparece, comumente ônibus. Se parado ficasse, ainda assim poderia ser mais rápido: era só estar no saguão do aeroporto.

Mesmo dentro do ônibus há discrepâncias de tempo: um vai dormindo, e o tempo lhe passa sem sentir. Ao preocupado, o tempo varia. Para quem visita a namorada, o ônibus não chega nunca! Apreciando boa música, ainda mais se acompanhado, tudo finda muito rápido.

O tempo flui em taxas diferentes. Cabe ao agente definir a dilatação temporal. Sua ausência acarreta a contração espacial.

O tempo é elástico até para quem dorme. O rico sonha, e assim tem tempo dobrado. O carente, pesadelo. É sofrido, ninguém quer, mas o tempo também para ele se expande. Se ao acordar nada lembram, lá se foi o tempo em vão.

Quem possui a mulher nota 10, junto dela o tempo voa. Ao marido de mulher feia o feriado é interminável.

A Hora do Brasil demora mais do que noventa minutos de futebol, vai dizer que não. Mas quando o placard assinala um a zero, maldito relógio que não anda!
E o que dizer do caranguejo, que anda para trás? Pode-se dizer que seu futuro está no passado?
Se o trem percorre ao norte, numa velocidade de cem, e alguém dentro dele atira uma bola ao sul, na velocidade de cincoenta, pergunto: a bola está se dirigindo para o norte ou para o sul? Ela percorre o futuro, ou se dirige ao passado? Boa essa não? Posso responder facilmente. Qualquer resposta pode ser correta. Depende, apenas, do ponto do observador. Para quem atira a bola, ela se dirige para o passado. Para quem aprecia da plataforma, ela viaja ao futuro.
O tempo por tudo é relativo. Quando um carro anda a 180 km por hora, é incrível. No entanto, se ficasse parado daria quase no mesmo: é que a Terra por onde ele anda viaja a 180, mas a 180 mil km. por hora ao redor do Sol, que por sua vez viaja sei-lá a quantas, ao redor de nossa galáxia, que por último voa a bilhões, na expansão do Universo.

Era uma enorme cebola de ouro, suíço, pedras preciosas nos ponteiros, o tampo em filigranas, uma jóia, uma antigüidade, uma relíquia, uma preciosidade.
FESTER, R., O relógio do avô,in O mar tem várias cores. - São Paulo, Liv. Duas Cidades, 1979
No fito de pretensamente melhorar nossa estada na Terra, a linha do tempo marca o compasso das gentes como gado embretado. Tudo mentira, e fatal, como sói acontecer..

A órbita planetária nos remete a um parque de diversões. Estações climáticas corroboram a infantil noção do carrossel. Ao operador, e para quem usa o brinquedo, o tempo acarreta dinheiro ganho, ou gasto.. Mas se a Terra e nossa vida se restringem no incessante circular, nada faz sentido: seríamos meros passageiros do gigantesco disco-voador sem destino? Digo, de trem-voador, pela falta de mobilidade lateral? Não vai levar!.
O ponteiro do relógio não imita a cabeça de um cão correndo atrás do próprio rabo? Convenhamos: para quem isso é negócio?
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Obviamente a retrógada postura sequer pressupõe onde vai dar. Prometem o céu. Como papel, o celeste aceita tudo..Vá lá.
A Nova Era é que não suporta mais as primárias e limitadas dialéticas:
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"O fato de o tempo ser próprio de cada corpo, não uma ordem cósmica única, envolve mudanças nas noções de substância e causa." (RUSSEL, cit. FADIMAN: 165)
O ultrapositivista PONTES DE MIRANDA (cit. MOREIRA: 103) superou os próprios preconceitos, e conclamou:

O princípio da relatividade deve ser mais geral ainda - devemos procurar a diferença de tempo nas realizações biológicas e sociais, - o tempo local das espécies e dos grupos humanos. Isto nos poderá explicar muitos fenômenos que resistem às explicações atuais. Mas para conseguir tais fórmulas muito terá que lutar o espírito humano contra os preconceitos que o rodeiam e contra as obscuridades da matéria que irá estudar.
Não mais cabe o sofístico apelo trabalhista: "Como o valor do trabalho depende cada vez mais do conhecimento, não podemos mais vender ou padronizar o tempo de trabalho como se ele fosse igual para todos."(TOFFLER, A.: 86)  Ciao MUSSOLINI:

Uma coisa é certa, a hora uniforme do relógio não é mais pertinente para a medida do trabalho. Essa inadequação há muito era flagrante para a atividade dos artistas e dos intelectuais, mas hoje se estende progressivamente ao conjunto das atividades. Compreende-se porque a redução do tempo de trabalho não pode ser uma solução a longo prazo para o problema do desemprego: ela pereniza, com um sistema de medida, uma concepção de trabalho e uma organização da produção condenadas pela evolução da economia e da sociedade. Só se pode medir – e portanto remunerar – legitimamente um trabalho por hora quando se trata de uma força de trabalho-potencial (já determinado, pura execução) que se realiza. Um saber alimentado, uma competência virtual que se atualiza, é uma resolução inventiva de um problema numa situação nova. Como avaliar a reserva de inteligência? Certamente não pelo diploma. Como medir a qualidade em contexto? Não será usando um relógio. No domínio do trabalho, como alhures, a virtualização nos faz viver a passagem de uma economia das substâncias a uma economia dos acontecimentos. Quando irão as instituições e as mentalidades acolher conceitos adequados? Como aplicar os sistemas de medida que acompanham esta mutação?
LÈVY, PIERRE: 61
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Todo sistema natural, quando deixado livre, evolui para um estado de máxima desordem, correspondente a uma entropia máxima'. A entropia representa a perda de energia do universo, que ocorre a todo instante, razão pela qual os cientistas dizem que o universo caminha para a morte térmica. Ela é irreversível. Por isso, essa energia perdida jamais será recuperada. Esse sentido único da entropia fez com que os físicos a chamassem de 'a flecha do tempo'. Entropia - a flecha do tempo
Não creio correta tal divisa. Se o sistema natural caminha para desordem é justamente oposto da flecha, ordenada a um único sentido. O que caracteriza a desordem, por óbvio, é a falta de direção, do determinismo, do oriente. A flecha tem que ser precisa; viver, não é preciso. O que desejam realçar refere-se à expansão do movimento, que naturalmente é equalizado à anarquia, que significa ausência de hierarquia, mas não desordem, que é o inverso da ordem e mesmo do caos.  A entropia produz um ordenamento natural; ,portanto, contrário do apregoado.
Assim, descobriu-se recentemente que na natureza tudo está subordinado a uma ordem, até mesmo os fenômenos confusos, sem nexo, totalmente imprevisíveis. Esta ordem ‘superior’ é capaz de explicar eventos aparentemente randômicos - não importa se se trata de bolsa de valores, da mudança na temperatura de nosso planeta, ou da maneira que nós formulamos nossos pensamentos – e que podem ser expressos tanto em fórmulas matemáticas e físicas, quanto em belas imagens (os chamados fractals) disformes, mas com uma atraente irregularidade. Todos esses eventos têm algo em comum: o fato de serem atraídos a certos estados da natureza, o que lhes dá unidade, se bem que disfarçada. A nova regularidade dos fenômenos deu origem a uma nova ciência, que tem o ‘caos’ como tema central e na qual, um dia, deve se enquadrar a teoria das ondas.  WITKOWSKI, Bergè: 275

Entre os corpos há  troca de energia, e não propriamente perda, e a Teoria das Cordas sustenta há década, sem reparo, a vida em um universo de um total de dez,. Os buracos-negros nada mais são do que uma ponte, buraco de minhoca, como dizem, aos outros mundos. O que os  pesquisadores objetivavam afirmar na entropia é  seu caráter irreversível. Uma vez deflagrada,  não há volta - automaticamente ela dispõe a anarquia. Não há uma flecha do tempo, mas uma infinidade de vetores, em múltiplas direções., até suscetíveis de medida, mas restrita, relativa ao ponto do observador. A descontinuidade é manifesta nos instantes e nas diversidades vividas. O tempo vive sob o signo das diferenças: "Cada forma de vida inventa seu mundo (do micróbio à árvore, da abelha ao elefante, da ostra à ave migratória) e, com esse mundo, um espaço e um tempo específico." (LÈVY, Pierre, cit. PELLANDA e PELLANDA: 118)
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Por enquanto, milhões cultivam a ansiedade. Sentem-se atrasados, cansados, stressados, resultado da enorme pressão do tempo. E tome buzina, grita nas filas. Em véspera de Natal, cruzes. O fim-do-ano já está aí!!! É gente fechando, animal xingando:

"Sai da frente que atrás vem gente!"
“Tempo é dinheiro!”.
Sim, pode ser. Mas com tempo, porque a pressa pelo dinheiro? E sem tempo, como fazer dinheiro? Francamente!
"Quem trabalha não tem tempo de ganhar dinheiro!"
Já ouvi essa outra aberração. Tal conceito deve ter vindo da Bobonne. Lá ensinavam maravilhas ao pessoal de cá. Houve um especial. Retornou à Pátria empertigado. Como chegava da Europa, bem vestido, de fatiota, ninguém percebeu a lorota. Deram-lhe a chave do cofre. O bon-vivant confirma o ditado, mas tem outro que deve ter esquecido:
"Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe!"
Aguardo.
Quando se aposentar, não faça como o tipo, que não sabe o que fazer com o tempo furtado de todos lá atrás. Não se perturbe. Se nada se dispuser a fazer, também nada há de perder, e não precisa tomar de ninguém. Orienta-nos Lao-Tzè:
"Pela não-ação tudo pode ser feito."
GOETHE, MIESTÓFOLIS, HEISENBERG e mesmo SÊNECA que me desculpem. Prefiro esta vera amarela.

APESAR DA CRISE GLOBAL, a China não abranda. Em todos os domínios se pode dizer que acelera o seu desenvolvimento. Das suas universidades saem centenas de milhares de cientistas e engenheiros e os melhores destes fazem cursos de pós- graduação nas escolas ocidentais onde se vão apropriando e desenvolvendo o conhecimento de ponta.
LETRIA, Joaquim, www.sorumbatico.blogspot.com - 14/5/2009
Se porventura nesse meio-tempo alguém necessitar qualquer auxílio, por favor, acuse. Boa-vontade não me falta.
O banco do “ú” também deve conhecer nosso precursor asiático. O estabelecimento não tem disponibilidade de tempo. De dinheiro, está farto. Ita demora no mínimo dez dias para abrir uma conta, na melhor das hipóteses. Na pior, não abre. Pela não-ação, fica com um dinheirão.

Nos EUA, a Nextcard limpa seu nome, histórico de crédito, e ainda aprova seu cartão em 35 segundos. É gente que faz; contudo, não falta quem reclame da demora.
A Bolsa opera com horário, mas aceita after-market. Não deveria fechar. Deus teve o privilégio de descansar no sétimo, depois de usar seis para criar o Universo, mas no céu o cair do Sol encerra o dia. Não temos tal regalia. No mundo ele nunca se põe. Se estamos no fim da semana, no Japão recém começa. Ien não é bemvindo também?
Os astrônomos determinaram um segundo extra ao ano passado. (Folha de São Paulo,10/12/2008). Isso é timidez. O Brasil troca tres mil e seiscentos, de uma vez, por conta do verão. "Neste país" basta um decreto para obrigar até o cuco. Não sei do galo. Como informá-lo? Meu relógio, todavia, não se mexe, não. Nele quem manda sou eu. No do povo, mandava o finado Zé Bedeu.
Certos segmentos não fecham. Acompanham nossos corações. Hospitais, bombeiros, postos, rádios e táxis amparam a comunidade sem parar. A Internet é oásis. A propósito: por ela podemos ter a noção exata da eternidade, em confronto com o tempo linear arbitrado. Se arrolássemos todos os sites nela inseridos, a partir do primeiro ao último, teríamos uma extensão inimaginável. Para ir do primeiro ao último levaria quanto tempo? No entanto estão todos ao alcance, ao mesmo tempo, no toque mágico da tecla.
Estou para ver a Cidade 24 horas. Não haveria insônia, nem garçon de cara feia.

Um comentário:

  1. Gostei muito da imagem, tempo é dinheiro, de seu blog. Peço permissão para colocar a mesma no meu blog http://konektigi.blogspot.com
    Caso haja desacordo eu retiro a imagem.
    Aproveito a oportunidade para desejar um Feliz Natal e um Ano de 2010 Pleno de Realizações.
    Um abraço,
    Jorge
    http://xeesm.com/JorgePurgly
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    http://biometrio.blogspot.com
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