segunda-feira, 5 de março de 2012

Obssessão pela riqueza

Marx não inventou, somente observou, que o econômico é a sustentação, não exclusiva, da superestrutura: religiosa, moral, filosófica, jurídica, política, etc.; ou seja, da própria vida. Ninguém joga dinheiro no lixo. Sempre é movido pelo interesse. 
Uma concepção adequada de desenvolvimento deve ir muito além da acumulação de riqueza e do crescimento do Produto Nacional Bruto e de outras variáveis relacionadas à renda. Sem desconsiderar a importância do desenvolvimento econômico, precisamos enxergar muito além dele. Nobel de Economia AMARTYA SEN: 28
Só o indivíduo isolado pode pensar e por conseqüência criar novos valores para a sociedade, mesmo estabelecer novas regras morais, pelas quais a sociedade se aperfeiçoa. ALBERT EINSTEIN
Atrevo-me a radicalizar: qualquer desenvolvimento econômico sustentável é apenas consequência de  um desenvolvimento social saudável, que por sua vez é tecido de modo individual pelos participantes, por iniciativa destes, e não através de governantes, por mais poderosos que sejam. 
Os interesses dos indivíduos se compensam entre si e o produto final coincide com o interesse da comunidade. Em outras palavras, a consciência do indivíduo é árbitro e condutor tanto do interesse público quanto do privado que não é obra do acaso. TOCQUEVILLE, 1997: 18
A dirigente do Brasil colou o slogan oficial: "País rico é país sem pobreza." Compreende-se: "Só existe uma classe que pensa mais no dinheiro do que os ricos: são os pobres. Os coitados não pensam em mais nada."  (OSCAR WILDE)
Será para tornar a Nação rica que o governante é escolhido? O Ministro dos Esportes talvez não concorde. Para o diletante sociológico os pobres tem uma paixão mais sincera quando vestem a camiseta do time de seu coração.
Quem tem razão? Devemos acabar com os pobres, assim acabando também com a espontaneidade, ou quem sabe, para salvar este lado mais humano, devemos tornar todo mundo pobre - exceto, é claro, o governante? * Pois nenhum tem razão.
A filosofia positivista, que considera o instrumento “ciência” como o campeão automático do progresso, é tão falaciosa quanto outras glorificações da tecnologia. A tecnocracia econômica espera tudo dos meios materiais de produção, Platão queria transformar os filósofos em governantes; os tecnocratas querem transformar os engenheiros em componentes do quadro de diretores da sociedade. HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. R. J: Editorial Labor do Brasil, 1976: 69
Há sobradas razões a tanto interesse:
No Brasil, quem fica com a renda dos trabalhadores é o Estado. Devolve depois? Para os trabalhadores das empresas privadas, pouco. O componente fiscal no Brasil é terrível em qualquer atividade. Na distribuição da receita bruta de uma empresa não financeira, o primeiro beneficiário é o Estado, que fica sempre com mais de 42% da receita. Os trabalhadores ficam com cerca de 20%. Fornecedores, credores, prestadores de serviço públicos e privados e os acionistas ficam com o restante. Desde 2002 a União investe menos de 1% do PIB. Existem estudos empíricos que mostram que os trabalhadores com menos de dois salários mínimos pagam mais de 50% da sua renda em impostos. E o Bolsa Família custa 1,7% da receita da União.. Só depois de impostos 
"Nos mais diversos setores da República, a perda de parâmetros, o abandono a princípios, a inversão de valores... Há de buscar-se, a todo custo, a correção de rumos, sob pena de vingar a Babel". (Min. MARCO AURÉLIO, STF, Folha de S.Paulo,  29/9/2009)
Será que um rico que disponha de duas casas, dois automóveis, duas camas e duas escovas-de-dentes será o dobro mais feliz do que o inditoso que só possui unidades? E será que este, por incapacidade ou opção, será multiplicadamente mais apaixonado pela vida do que aquele que pode alternar a utilização de seus bens?
De fato, é como as nações modernas estivessem repetindo cegamente o erro que foi fatal para as cidades gregas, dois mil e quinhentos anos atrás. Por mais incongruente que isso possa parecer, minha impressão é de que a peça que estamos encenando já foi montada na Grécia, na época do nascimento da filosofia socrática. É que, desde Platão, as coisas praticamente não mudaram. É como se a espécie humana não pudesse escapar da mediocridade de seu destino. SAUTET, Marc, 2006: 15/86
Não cabe a nenhum líder, muito menos governante sequer analisar, que dirá estipular, ou girar a nau ao rumo que lhe parece mais conveniente, lógico, sensato, muito menos impor o que de melhor lhe apetece. 
As políticas mundiais de crescimento induzido pelo Estado tiveram exatamente o efeito oposto do que pretendiam: tinham aumentado, e não reduzido, o custo da produção de bens e serviços e tinham abaixado, e não aumentado, a capacidade das economias de conseguirem uma produção vendável. SKIDELSKI: 140 
Um GISCARD D'ESTAING (Democracia Francesa: 52) até compreenderia...“Os países do terceiro mundo não têm muita escolha, devem pensar e agir em termos de massas. Alimentá-las, vesti-las, educá-las, constitui tarefa prioritária, pouco espaço deixando ao indivíduo.”... Porém jamais daria vazão à estupidez: “Uma concepção coletivista da organização social, dominada pela noção de massa, é o oposto da evolução almejada por nossa sociedade.” (Idem, ibidem.) Não há nenhuma sensatez na generalidade, no trato do ser humano como número, tampouco como ultimamente disfarçados, por letras - classes A, B, C, etc.  Política externa da nova classe Não é a maioria que deve ditar o rumo para todos. Ela dita, sim, por seus voluntários porta-vozes, mas por covarde, pela força, pela imposição. Eis, constituída, a mais grave distorção, a subversão do ideal democrático, cujo primeiro êxito se efetivou na canhestra Revolução Francesa, daí contaminando o globo inteiro, inclusive os frenéticos filhos da Rainha. 
O grande ideal dos pensadores dos séculos XVIII e XIX, ao defenderem uma reforma política que aboliria a monarquia e a autocracia, era libertar o indivíduo da tirania de um homem só ou da tirania de alguns poucos sobre todo o resto. Mas eles também alertaram para um outro perigo igual ou até mesmo maior: a tirania da maioria sobre a minoria, mesmo que a minoria fosse composta de apenas um indivíduo. , A liberdade é mais importante que a democracia.  
Quando alguém nos pergunta o que somos em política, ou, antecipando-se com a insolência que pertence ao estilo de nosso tempo, nos adscreve simultaneamente, em vez de responder devemos perguntar ao impertinente o que ele  pensa que é o homem e a natureza e a história, que é a sociedade e o indivíduo, a coletividade, o Estado, o uso, o direito. A política apressa-se a apagar as luzes para que todos estes gatos sejam pardos. GASSET, José Ortega Y, A rebelião das massas: 15
Desde que a guerra contra a pobreza começou em 1965, os governos federal, estaduais e locais gastaram mais de 5,4 trilhões lutando contra a pobreza neste país. Quanto dinheiro vem a ser US$5,4 trilhões? São 70 por cento a mais que o valor do custo da II Guerra Mundial. Com US$5,4 trilhões você pode comprar todas as 500 empresas mais bem-sucedidas, Fortune e todas as terras cultiváveis dos Estados Unidos. Já a taxa de pobreza está realmente mais alta hoje [1996] do que em 1965. PIPES, R.: 328.
A Grâ-Bretanha jamais abandonou o script escocês. 
O esforço natural de cada indivíduo para melhorar suas própria condição constitui, quando lhe é permitido exercer-se com liberdade e segurança, um princípio tão poderoso que, sozinho e sem ajuda, é não só capaz de levar a sociedade à riqueza e prosperidade, mas também de ultrapassar centenas de obstáculos inoportunos que a insensatez das leis humanas demasiadas vezes opõe à sua atividade. ADAM SMITH  cit. DOWNS: 56  
Pois enquanto para a UK  e para alguns outros o futuro continua resplandecendo, a formidável  composição espartana se aproxima do terminal. Lester Thurow (cit. RAIMAR, Richers, prefácio de THUROW: 7) invoca cinco forças que moldarão o nosso mundo material, em suas expressões econômicas e políticas: o fim do comunismo; mudanças tecnológicas para uma era dominada pela inteligência humana; uma demografia inédita e revolucionária; uma era multipolar que desconhece qualquer tipo de dominância econômica, política, ou militar por qualquer nação. Urge aos governantes livrarem-se do onirismo, da impressionante alienação lavrada pelos desvairados pensadores das cavernas, no fito de ensejar que todos possamos usufruir da intensa, diversificada e rica potencialidade que nos cerca.
A teoria do caos não só fornece uma explicação para as flutuações de uma economia de mercado, mas também demonstra que o Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso. ROSSER, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. PARKER & STACEY, : 95
Existe uma acentuada complementariedade entre a condição de agente individual e as disposições sociais: é importante o reconhecimento simultâneo da centralidade da liberdade individual e da força das influências sociais sobre o grau e o alcance da liberdade individual. Para combater os problemas que enfrentamos, temos que considerar a liberdade individual um compromisso social. Essa é a abordagem básica que este livro procura explorar e examinar. A expansão da liberdade é vista, por essa abordagem, como o principal fim e o principal meio do desenvolvimento. O desenvolvimento consiste na eliminação de privações de liberdade que limitam as escolhas e as oportunidades das pessoas de exercer ponderadamente sua condição de agente. SEN, A. 2000:10-
Do lado da sociologia, sabe-se que mesmo um autor como Luhmann acabou por se ver compelido a introduzir uma mudança radical no paradigma das relações entre a pessoa e o sistema social. Deixando de ser categorizada como mero ambiente do sistema social, a pessoa passa a valer, também ela própria, como sistema. Um sistema social, a figurar como seu (da pessoa) ambiente. A pessoa vê-se, assim, chamada - e legitimada - a desafiar permanentemente o sistema social, como fonte de “contingência”, "irritação”, mesmo desordem. De acordo com o “novo paradigma luhmanniano”, “na construção de sistemas sociais, a complexidade opaca dos sistemas pessoais aparece como indeterminabilidade e contingência, não sobrando para o sistema social outra alternativa que não seja “interiorizar a complexidade” irredutível, emergente da pessoa. O que bem justificara a pretensão de apresentar a nova teoria de Soziale Systeme (1984) como uma Zwang zur Autonomie. ANDRADE, M. C.: 26
Pois o chamado ‘fim da história’ nada mais é do que a emancipação da multiplicidade dos horizontes de sentido. É o nome de uma ruptura, de uma crise relativamente à tradição. Estamos diante de uma nova episteme: da indeterminação, da descontinuidade, do deslocamento, do pluralismo (teórico e ético), da proliferação dos projetos e modelos, da ampliação de todas as perspectivas e do tempo da criatividade. JAPIASSÚ, H., Nascimento e morte das ciências humanas: 10
Naisbitt (p.96) reconhece: "De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade." Nada de novo no front ocidental:
Na verdade, o conceito de retornos crescentes não é novo em economia, como afirma Keneth Arrow no prefácio do livro Retornos crescentes e trajetórias dependentes em economia, de Brian Arthur. Adam Smith, nos capítulos iniciais de A Riqueza das Nações, usa o argumento de retornos crescentes para explicar o crescimento econômico e a especialização.  GLEISER, I.: 191
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"A despeito de três grandes reveses - em 1920, 1928 e 1937-8 - Keynes aumentou seu ativo líquido de 16.315 libras em 1919 para 411.238 - equivalentes a 10 milhões de libras em valores atuais - quando morreu." (SKIDELSKI: 35).

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