segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A importância da Relatividade na Educação

Existem tempos nos quais os homens são tão diferentes uns dos outros que a própria idéia de uma mesma lei aplicável a todos lhes é incompreensível.
TOCQUEVILLE, A.
1997, Livro Primeiro, Capítulo III: 61
Qualquer manual de poupança ou investimento indica: não se deve colocar todos os ovos na mesma cesta. Antigamente, havia o conselho ao casal não viajar no mesmo avião. E não há quem não condene monopólios. As premissas não necessitam delongas, mas o que vemos nos programas educacionais? O Estado se subroga na incumbência de ditar a formação de todo mundo. Fatalmente ele sempre atinge seus objetivos, mas
se ele estiver errado, aliás, como sói acontecer?.
.
A ciência não se faz mais de modo estanque. Nenhuma verdade é inconteste. São sistemas de relações, constantemente revistos, e até retificados. Portanto, não há como nos apropriarmos da ciência, mas apenas dela nos aproximar, mais ou menos. Por que cargas-d'água devem todos seguir uma única batuta, um único diapasão, ou critério, ainda que oficializado?
* * *
MONTEQUIEU
advertira: a salvaguarda dos tres poderes era apropriada apenas para pequenas extensões territoriais. A História consagra o célebre autor: o regime democrático se mostrou competente para varar o EspaçoTempo, mas apenas em países com dimensões reduzidas.
O Estado alemão era, evidentemente, uma burocracia. E, embora outros Estados também o fossem, a burocracia alemã entrou para a história como um exemplo, enquanto mecanismo de controle e regulação da sociedade. O povo alemão lhe dispensava um respeito e uma obediência sem paralelo no resto da Europa. Comparando-se com outros impérios, somente na Rússia se incluia uma gama tão vasta de profissões e vocações nas categorias de serviço público como a que se registrava na Alemanha da época.
AMORIM: 48
A excessão superou o óbice ao previamente dividir o Country em vários pequenos estados, e por isso logra o apogeu.
Sempre atento às questões humanas, EINSTEIN ( Liberty magazine, 9/1/ 1932; cit. Pais, A., Einstein viveu aqui: 216) retomou as preocupações originais de LOCKE e MONTESQUIEU, mesmo aparentemente desconhecendo suas obras. Fulminou:
"A burocracia prende o espírito como as faixas da múmia."
A preocupação de Grande Relativo teve a constante:
Como é possível, em face da ampla centralização do poder político e econômico, evitar que a burocracia se torne todo-poderosa e arrogante? Como proteger os direitos do indivíduo e, com isso, assegurar um contrapeso democrático ao poder da burocracia?
EINSTEIN, A., Escritos da maturidade: artigos sobre ciência, educação, religião, relações sociais, racismo, ciências sociais: 137
Nosotros adotávamos uma caricatura do modelo americano, técnica que vinha sendo utilizada com algum êxito pelo Império, mas a Guerra do Paraguai lhe turvou.
Haveria algum motivo concreto para MONTESQUIEU restringir sua própria criação?
Pode-se cogitar que na medida que aumenta o contingente populacional, reduz-se a possibilidade do consenso, a pedra-de-toque da concepção democrática. Mas o fundamento de seu receio era a constatação de que não se pode exigir conduta igual a povos distantes. O comando centralizado, ainda que escolhido pelo povo, e mesmo obedecendo o molde iluminista, é completamente inapropriado à quaisquer circunstâncias:
O Estado não tem o conhecimento necessário para adotar as medidas anticíclicas corretas. Na medida em que é extremamente baixa a probabilidade de se alcançar um estado final desejado em um mundo caótico, é difícil enxergar como o governo poderia especificar uma política para atingir esse objetivo, a não ser por acaso.
ROSSER, J.B. Jr., Chaos Theory and New Keynesian Economics, The Manchester School, Vol. 58, n. 3: 265-291, 1990; cit. PARKER & STACEY: 95.
A tendência à centrifugação se acentua nas bordas; e quanto maior o disco, acelera-se o efeito, de modo que a desintegração é apenas questão de tempo.
Entender a Amazônia é não impor o etnocentrismo.
É entender a sustentabilidade de um povo que quer a floresta de pé.

SILVA, Jornalista Marilene. - www.dihitt.com.br/usuario/tapajonica
Na floresta não há gado; no cerrado falta praia. O que é mínimo na megalópolis pode ser o máximo da vila. Em Brasília, 19 horas; e chove pouco. Gaúcho está mais próximo da argentina do que da nordestina. Que tal um frevo no Acre? Horário de trabalho ao baiano? Reforma-agrária no Espírito Santo? Cartão-ponto ao agricultor? Carne-de-sol à paulista? Mignon à pescador? Valsa na Sapucaí? Aplicar as leis de Gegê no século XXI? Não dá.
NORBERTO BOBBIO,(2001:16) o grande cientista político do século XX, recentemente falecido, reconheceu a importância, e a atualidade do método mais plausível ao gigante:

O federalismo é o princípio mais profundamente inovador da era contemporânea... Quando se diz que o federalismo marca o rumo da história contemporânea, no sentido de uma efetiva ação de liberdade, significa dizer que o federalismo executa, no âmbito da sociedade civil, o acordo entre o poder central e os grupos periféricos, com um maior respeito às autonomias das partes individuais do que se refere ao todo, e com um menor fortalecimento do todo no que se refere às partes, levando-se em conta o que ocorreu nos sistemas históricos até aqui conhecidos.
A federação é aquela forma de Estado que garante melhor do que qualquer outra a liberdade dos cidadãos, assegurando-lhes uma mais extensa e direta participação do poder, e promove com maior zelo os seus interesses, subtraindo, o máximo possível, o cuidado do setor público a uma burocracia distante e incompetente.
(Idem: 23)
Não somente tudo isso, como ainda mal-intencionada.
.
Ainda que sejamos obrigados a padecer sob as asas da grande galinha, em prol de uma discutível segurança, por qual Minerva devemos manter nossos filhos sob a égide da metonímia?
“O mundo da inteligência está bem longe de ser tão bem governado quanto o mundo físico.” (MONTESQUIEU, cit. BOBBIO, N., 1992: 128)
Mas se o Estado visa apenas o poder, e os religiosos propagam somente o amor, embora eles próprios sequer nisso acreditem, qual fonte poderia ensejar um verdadeiro conhecimento?
.
Conselho Citadino de Educação
O antigo direito não é obra do legislador;
o direito, pelo contrário, impõe-se ao legislador.

COULANGES, Fustel: 100
Sempre ouço: "Nada mais importante na vida do que os filhos." Concordo. No entanto, o que vemos? Professores se queixando de salários, escolas fechando, alto índice de abandono escolar. Há reclamações de todo o gênero - planos de carreira, currículos defasados, falta de equipamentos basilares, etc. Todos os pleitos tem o endereço central, do comando supremo, que tudo quer e logra reger, sem nada fazer. É muita energia, tempo, dinheiro e vidas desperdiçadas pelo ralo da falta de imaginação e má-vontade. Porque a gente não se reúne e monta a escola que melhor convém? Falta capital? Isso é o de menos. Existem linhas de financiamento até internacionais. Com clientela cativa, e com produção asssegurada, não há risco na tomada de empréstimos. Ademais, não entendo a razão de empresas não patrocinarem os colégios, até livros.

Lembro da mãe Petrobrás,
a jogar milhões em estéreis porfias,
em camisetas de futebol, até argentinas,
em grandes equipes de rallye intercontinental,
e britânicas de Fórmula 1, etc.


O pai Banco do Brasil não fica atrás.
Outrora voltado especialmente ao meio agrário,
há muito vem oferecendo vultosas verbas para
equipes e imensas torcidas de esporte amador,
assim como vários congêneres estaduais, e privados.
.
Milhares de empresas dispõem fortunas às campanhas políticas. Presume-se que todos tenham interesse direto no desenvolvimento, mas isso requer conhecimento, não apenas política. Neste caso, contribuindo mais diretamente para o enriquecimento cultural, as entidades não só continuariam o intento de vender seus produtos, como ampliariam a possibilidade de aperfeiçoá-los. Instituições financeiras, civis, clubes de serviço, entidades de comércio, indústria e agricultura poderiam liderar facilmente qualquer movimento no sentido de aprimorar seus filhos e futuros colaboradores, incrementando o manancial inesgotável dos recursos humanos que tanto veneram. Seria o caso de promover até "leilões" de bons profissionais da educação, como acontece com comunicadores de massa, artistas de TV, ou técnicos de futebol, por exemplo, esta atividade emocionante, mas infinitamente menos importante do que a exposta. As cidades deveriam possuir autonomia para deliberarem sobre o decisivo assunto, porque lhe recai diretamente o bônus de sua atuação, ou o ônus da desídia; porém não incumbir a casta política, já assoberbada com viagens, diárias e mordomias, e sim através de um conselho integrado pelos diretamente envolvidos - pais, professores, até alunos, ex-alunos, e eventuais patrocinadores, e, afinal, quem quisesse participar, porque não? Aos estados federados cumpriria apenas suprir as mais carentes, mas nunca a União.
Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país.
JOHN F. KENNEDY
O ultrapositivista PONTES DE MIRANDA (cit. MOREIRA: 103) superou os próprios preconceitos, e conclamou:

O princípio da relatividade deve ser mais geral ainda - devemos procurar a diferença de tempo nas realizações biológicas e sociais, - o tempo local das espécies e dos grupos humanos. Isto nos poderá explicar muitos fenômenos que resistem às explicações atuais. Mas para conseguir tais fórmulas muito terá que lutar o espírito humano contra os preconceitos que o rodeiam e contra as obscuridades da matéria que irá estudar.
A mais variada gama de aprendizado deveria ser não só estimulada, mas reconhecida.
"Cada sociedade, para empregar uma expressão simples mas cômoda, tem um estilo; e esse estilo se reflete em sua concepção sobre o Conhecimento." (THUILLER: 26)
O que me parece vital ressaltar: nossos filhos e netos não merecem permanecer ao sabor dos mesquinhos interesses políticos, ou do proselitismo religioso. Mas qual a colaboração dos pais em sua educação, ou no estipular o que devem aprender?
Como criar organizações que continuem vivas? Como criar organizações que não nos sufoquem com seus ditames de controle e obediência? A resposta é clara e simples. Precisamos confiar no fato de que nós temos a capacidade de organizar a nós mesmos e precisamos criar condições que favoreçam o florescer da auto-organização.
WHETLAY, KELLNER-ROGERS,
Um caminho mais simples: 58
Assim como as leis são extensões dos costumes, a educação pode e deve ser diversa, variando conforme necessidade e/ou interesse da região.
"De fato, a vida no espaço cibernético parece estar se moldando exatamente como Thomas Jefferson gostaria: fundada no primado da liberdade individual e no compromisso com o pluralismo, a diversidade e a comunidade.” (NAISBITT, J., Paradoxo Global: 96)

Nenhum comentário:

Postar um comentário