sábado, 24 de maio de 2008

A má temática de Thomas Hobbes

Thomas Hobbes é outro filósofo cuja vida está vinculada à monarquia inglêsa; não menos que a Bacon, a política e as intrigas da Corte afetaram sua existência e, sem dúvida, também seu pensamento filosófico. Pelo relato de um antiquário seu contemporâneo, sabe-se que Hobbes, em certas ocasiões entre 1621 e 1625, secretariou Bacon ajudando-o a traduzir alguns de seus Ensaios para o latim. ¹
A tradição de Hobbes nunca concebia a imaginação como força criadora. Para Hobbes a mente humana, como o universo, é uma simples máquina, e de uma máquina não cabe esperar nenhuma criação. BOBBIO, N.,  Thomas Hobbes, p. 72.
Wilson de Lima Bastos possui a ficha de Hobbes: “Sucessor de Bacon, sofreu influência da filosofia matemática de Descartes e afirmava que toda a substância é corpórea e todos os fenômenos se reduzem a movimentos. Foi adepto da moral utilitarista.” (2)
Hobbes, que havia freqüentado assiduamente a corte fazendo-se passar por matemático (mesmo que pouco soubesse dessa disciplina) se desgostou ali, regressou à Inglaterra nos tempos de Cromwell e publicou uma obra muito malvada, de título muito raro: Leviathan. Sua tese principal era de que todos os homens atuam devido a uma necessidade absoluta, tese apoiada, aparentemente, pela doutrina dos decretos absolutos, doutrina de geral aceitação nesses tempos. Sustentava que o interesse e o mêdo eram os princípios fundamentais da sociedade. BRETT,  R. L., La Filosofia de Shaftesbury y la estetica literaria del Siglo XVIII, p. 14
  Engels pode reconhecer suas próprias raízes :
Hobbes sistematiza o materialismo de Bacon. A sensoriedade perde seu brilho e converte-se na sensoriedade abstrata do geômetra. O movimento físico sacrifica-se ao movimento mecânico ou matemático, a geometria é proclamada à ciência fundamental. (3)
Bertrand Russel ironiza:
É bastante conhecida a história do primeiro contato de Hobbes com Euclides: ao abrir casualmente o livro no Teorema de Pitágoras, ele exclamou: ‘Meu Deus, isto é impossível’, e prosseguiu lendo as demonstrações, de trás para frente, até que, ao chegar aos axiomas, acabou se convencendo. Não se pode duvidar que este tenha sido para ele um momento de volúpia, um clarão provocado pela idéia da utilidade da geometria na medição dos campos. (4)
Para Hobbes, a originalidade da vida consistia em escapar da morte. Preferia a má temática:
Depois de se ter dedicado durante anos a estudos exclusivamente humanistas, Hobbes se convenceu, através dos contatos que fez, em suas viagens internacionais, como alguns dos maiores cientistas do tempo, que as únicas ciências a progredirem o bastante para transformar radicalmente a concepção do cosmos haviam sido as que aplicaram o procedimento rigorosamente demonstrativo da geometria. (5)
Dessa matematização do saber científico, na qual não se pode deixar de ver uma plena adesão ao clima cultural do século de Descartes, deve participar – segundo Hobbes – também a ciência política, ou, como ele a chama, pela falta de distinção entre a ciência e a filosofia, a filosofia civil. (6)
A bandeira do altruísmo social, protótipo da ética geométrica, (!?) sensibilizou gerações, mesmo inglêsas, a começar pelo mais ferrenho defensor do “utilitarismo”, o também britânico Jeremy Bentham, "incansável e infeliz autor de projetos legislativos que deveriam instaurar o reino da felicidade sobre a terra." (7)
O raciocínio político encetado por cálculo, por tudo que pode ser “tomado em conta” forja um sistema de pensamento encadeado num subjetivismo extremado, por isso alienado: “O utilitarismo considera que o prazer e a dor são critérios que determinam a justeza da ação do indivíduo”. (8)
Hobbes e Bentham não souberam atentar: tanto animais irracionais como o próprio homem são submissos a necessidades elementares, a instintos, mas o ser humano, embora repleto deles e de sentidos, é dotado de cérebro consciente. Como muito bem diz Japiassu, “a inteligência só pode aplicar-se à vida reconhecendo a originalidade da vida”. (9)

Ainda:
A pobreza metodológica de Thomas Hobbes
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NOTAS

1. Cobra, Rubem Q., Thomas Hobbes, Página de Filosofia Moderna, Geocities, Internet, 1997.
2. Bastos, W. L., p. 173.
3. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, p. 9.
4. Russel, B., cit. Masi, D., p. 64.
5. Bobbio, N., Thomas Hobbes, p. 28.
6. Idem, p. 76
7. Bentham, J.. cit. Bobbio, N.; Cardim, C.H., p. 128
8. Hayek, Friedrich August von, Os erros do socialismo - Arrogância Fatal, p. 88.
9. Japiassú, Hilton, Nascimento e Morte das Ciências Humanas, p. 101

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